sábado, 5 de abril de 2014

PATUÁ TORTO

 

Xul Solar



Na natureza nada se cria,
tudo se transtorna.
O problema é ficar contando
com a galinha no cú do ovo,
pois pau que nasce torto
não carrega patuá.
Deus não dá dente a passarinho.
Assim diziam:
“nossa visão é que é torta,
não suas linhas”.
Eis o fio da faca de dois azedumes,
eis o infiel da balança.

Assim me contaram a História:
Agora Inez era viva
e todas as bocas levavam à fome.
Quando ela viu a escuridão
no fim do tonel,
não acreditou na bruxas
que eram reais.
Elas traziam a verdade
que está na cachaça.

Quando a esmola é muita
o santo acha graça,
porque o paraíso está cheio
de más intenções
e o sentido do dito
é no ouvido que se forma,
na palavra que transforma
e suas ações.

domingo, 16 de março de 2014

O POETA DA MANIFESTE O CÃO

                                                                                                   

 Basquiat





Quem será o Poeta
da Manifeste o Cão?

Um block? Um Black?
Um partido por suas ideias?
Um corrompido por suas telas?
Um explodido por sua ignorância?

De onde virá o Poeta
da Manifeste o Cão?

De Madureira ou do Leblon?
Dos colégios santos
ou dos santos de terreiro?
Da periferia da Zona Sul?

O que falará o Poeta
Da Manifeste o Cão?

Do preço abusivo de tudo,
nesta terra descoberta por estrangeiros?

Tocará Sininhos
falando sobre rolezinhos,
que prejudicam as compras dominicais?

Da vida dura
ou da paz mole
soprada nos coqueirais de Copa?

Da Copa
e sua tocha queimando o povo?

Falará do povo,
sem o povo e para o povo?
E sobre o povo
definirá a palavra povo? 
O que será?

Para quem falará o Poeta
da Manifeste o Cão?

Para todos.
Sempre para todos.

E sua morte será a praça
em silêncio.

Com isto,
seu corpo estará visível,
dependurado na rua esvaziada.  

sexta-feira, 14 de março de 2014

Poema de Carnaval Bobinho


Essam Marouf



Eras Colombina de outras eras
e eu Pirata desalmado.
Quando fui Nero incendiado
viestes de sereia com toda água do mar.
Caístes do Céu feito um Anjo
quando cheguei de Maria Madalena.
Rodopiavas de Cisne Negro
enquanto eu caçava na África.
Tu de Santa
eu, Padre Libertino.   
Pulei de Macaco
eras maldosa cientista.
Quando vim de Amarildo
tu, polícia armada.
Eu Black Bloc Terrorista Anonymo,
tu caminhavas de Gandhi Pacifista.
Eu vestido de Povo
eras a Taça da Copa.
Vim de Gari
 e tu sujavas tudo mascarada de Eduardo Paes.

Ah...
Chega.
Não quero mais.

A melhor fantasia
é sem roupa
que a gente faz.


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Líquido Fruto II

Jonathan Burton








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Tua boca,
carne de palavra dita.
A dita cuja,
aberta
na folha de teu rosto.

Escrita dentada
e molhada
é a tua boca.

Vários sentidos
de vocabulário bilíngue,
comprendido por partes:

Nas artes em detalhe,
no radical,
no hiato do entre lábios.

Tua boca tatuando a escrita
por meu corpo inteiro.
A palavra mordida
e sua saliva,
a tinta e o tinteiro.